16 de ago. de 2017

VÊNUS IN FUZZ, Planeta do Barulho!

A música segue um ritmo linear, crescendo em densidade sob camadas de efeitos entre os limites sonoros do barulho e a melodia. É nessa concepção musical - traduzida pelas fortes influencias dos post-punk anos 80 e do shoegaze brit anos 90 - que o guitarrista e vocalista Gilberto Bastos vinha formatando a sonoridade da banda paraibana Vênus In Fuzz desde o começo dos anos 2000, mas apenas recentemente concretizado. 
Atualmente é um quarteto formado por Gilberto, Igor Silva (voz e baixo), Angie (bateria) e Tarcisio Victor (guitarras) que vem se destacando na cena indie rock de João Pessoa.

Em julho passado lançaram o novo EP contendo quatro faixas e a produção caprichada da Mardito Discos. O trabalho da banda, lançado pelo próprio selo Silo Records, vem tomando projeção no país, sendo convidada recentemente para participar de uma coletânea tributo ao famoso grupo inglês Spiritualized. Sob esses assuntos foi em que trocamos uma idéia com o grupo. Confira a breve entrevista e escute o novo play pelos links indicados abaixo. 

Gilberto, a idéia de formar a banda é desde o começo dos anos 2000, certo? Poderia falar sobre esse começo? 

Gilberto - Foi difícil. Na época eu já havia me transferido do Recife pra João Pessoa, o que se tornou muito complicado pra mim, manter uma relação musical com os amigos que eu tocava lá. Esse período foi muito estranho, pois tinha pretensões de formar uma banda shoegazer e encontrar quem curtisse tocar esse estilo na época por aqui, pela cidade. Era quase impossível. Foi uma época de declínio desse tipo de som. Eu ainda em adaptação a nova morada, não tive muita sorte. Joguei meus equipos num depósito e hibernei musicalmente até 2016, quando me juntei com Igor. Aí a coisa fluiu. 

Parece ser difícil ter uma referencia local quando a sonoridade é alternativa ou especificidades em subgêneros. Por exemplo, fazer um som noise e shoegaze não é muito comum. O que vocês pensam sobre isso? 

Gilberto - A cidade sempre foi predominantemente punk/hard core. Pelo menos desde quando cheguei aqui e pude observar a cena. Eu falo em bandas autorais! As covers deixemos de lado. É um absurdo! Hoje mudou muito. A diversidade tem crescido. O que é positivo. Quando fixamos a idéia sonora da Vênus, eu com minhas viagens de noise e Igor com uma forte influencia do pós-punk, eu realmente senti que eramos uns estranhos no ninho. A turma não usava microfonias, reverberações. Os caras sempre tocando certinho, bonitinho. Quando a gente começou a infernizar os amps com microfonias foi bacana, chamou a atenção. Foi diferente. Mas graças a essa diversidade atual, temos bandas shoegazers, post-rocks na cena. 

Igor - Na verdade, rolaram alguns flertes com shoegaze, algumas guitar bands em João Pessoa na década de 90 por bandas paraibanas como o Nailspop, Bona Dea e mais recente rolou o Old Men School, mas nenhuma delas pegou mais pesado na experimentação com pedais e efeitos.

Quais são as influencias sonoras e artísticas marcantes da banda? 

Gilberto - Minhas influências começam nas minhas referências literárias. Sempre fui mais poeta que músico. Sou péssimo músico. Rs. Mas Spacemen 3, Loop, The Telescopes, pra mim é o meu tripé sonoro. Participam intensamente nos sons que eu crio. 

Angie - Minhas maiores influências de som tocando no Vênus seriam essas bandas: The Stone Roses, My Bloody Valentine, Slowdive, Galaxy 500 e Spacemen 3. Como baterista minha primeira influência mesmo foi o Nick Mason.

Tarcisio - Parte das minhas influencias musicais são de bandas como Sileste, Joy Division, Radiohead, The Horrors e Sonic Youth, sempre me chamam a atenção bandas que fogem de guitarras convencionais.

Igor – Gosto das bandas citadas e também de coisas nacionais como Black Future, Fellini, Violeta de Outono e ficção cientifica e cinema, umas loucuras dadaístas e psicodelia também me instigam bastante.

A gravação do recente EP (com quatro faixas) causou boas impressões. Como a banda avalia essa produção mais apurada em estúdio, digamos assim? 

Gilberto - Esse EP foi muito importante. Abriu muitas portas lá fora. Intercâmbios musicais que ainda estão por vir. Ele foi lançado oficialmente dia 20 de julho e gravado no Mardito Discos sob a tutela dos grandes Marcelo Piras e Pepeu Guz. Eles entenderam o som da gente e somaram bastante. Gravamos livremente, sem perder a essência sonora da banda. O resultado foi muito gratificante. Não será pelo selo Subfolk. Será pela Silo Recs. Um selo próprio que nasce junto com esse álbum. O lance desse selo é o de armazenar idéias e compartilhá-las. Fazer parcerias. O que não impede de outros selos distribuírem nosso material. Já contamos com as bandas Vênus in Fuzz e o Astrocrushing de Campina Grande.

Igor - Com a Subfolk agente participou do box de EP's "Juntar as idéias e fazer algo", mas era outra formação da banda e tivemos um tempo mais corrido pra fazer o material, mas foi uma parceria massa e junto com bandas amigas. Em relação ao registro atual, só consegui visualizar bem ele como uma realidade depois da entrada de Angie e Tarcisio que sacaram e somaram bastante a ideia. 

A banda participa de duas coletâneas interessantes pelo site/selo brasuca especializado em sons alternativos The Blog That Clebrates Itself: numa coleta só com novas bandas brasileiras e a outra no tributo ao brits Spiritualized. Como foi que surgiu o convite e como é participar de consideradas produções?

Gilberto - O TBTCI. Conheço o trabalho do Renato Malizia há muito tempo e o acompanho desde então. Ele é um pesquisador incansável de novos sons nesse universo shoegazer e afins. Ele observa e apóia. Ele observou a gente e curtiu. Viu potencial e afinidades. O convite, o primeiro foi de cara participar do tributo ao Spiritualized, chegou e mandou direto: man, topas participar desse projeto? Aceitamos na hora! Tocamos “I am what I am” do disco “Sweet heart, sweet light”. Foi muito bacana, descobrimos que nossa baterista, a Angie canta divinamente. A responsa foi enorme, somos a única banda do país nesse tributo. Logo depois ele manda outra “intimação”: participar de uma coletânea com bandas nacionais classe 2017. Quando vimos Second Come, Pelvs, Pin Ups no cast, piramos! Bandas que eu particularmente curtia demais e totalmente ativas, vivas. Isso é maravilhoso e desafiante.

Igor – Foram dois convites junto com banda que eu já curtia e ao lado de novidades bacanas como o Camille Claudel lá do Rio de Janeiro. E o tributo fluiu bem, até porque é uma das referências de todos na banda e aproveitamos e experimentamos uns backing vocals de Angie nessa faixa.

A cena local tem aquele velho problema de divulgação e a limitação de espaços para apresentações. Como é que vocês encaram isso?

Gilberto - É lamentável que boas casas abram mais pra bandas covers. Mas tem acontecido algo bom: no centro histórico com a abertura do Vitrola e do Hera Bárbara encontramos espaços mais abertos a novas bandas. São oportunidades antes impensadas. Ganhamos também outros espaços não muito freqüentes, mas importantes como a loja de discos Música Urbana. A Feira de Vinil... As outras casas abrem espaço pra bandas digamos assim; “estabelecidas” e os aparelhos públicos da cidade nos dão as costas. Não somos rentáveis. Já em termo de divulgação, é necessário termos criatividade. Existem ferramentas que servem de divulgadores. Mas é difícil sim. O custo de gravação, arte, material físico, é bastante caro. Gostaria que alguns programas de radio locais, ligados a cultura da cidade, dedicassem um pequeno espaço pra divulgar as novas bandas. Seria importante demais. 

Igor - Tem o Mofado Bar também e já participamos de alguns movimentos de ocupação, fizemos shows em espaços esquecidos, lugares que poderiam somar muito a cidade, mas cultura quando está longe dos documentos e carimbos, nas ruas onde o povo vive, é algo que só interessa quando garante votos ou acordos. Acho que as pessoas envolvidas têm que assumir uma postura ainda mais radical e fazer a correria pras coisas rolarem sem esperar por ninguém. É complicado, mas somente as pessoas podem mudar isso, criar espaços e alternativas.

Sobre as bandas da atual cena paraibana, o que vocês acham e quem destacaria? 

Gilberto - Há muitas bandas fazendo um som de qualidade. Acompanhamos ensaios de algumas e nos surpreendemos com elas. O underground pessoense está efervescente. Fazemos parte dele e é dele que posso falar. Bandas como Emerald Hill, Margaridas em Fúria, Nardonis, Stress City que vem numa nova roupagem, são bandas singulares que deveriam ter muito mais visibilidade. Mas junto a eles, estamos nesse underground. Onde as grandes casas não enxergam, mas nem por isso deixamos de fazer barulho. É muita gente tem gostado.

Igor - Pra mim Margaridas em Fúria é uma banda que representa algo muito forte e é muito importante, a existência de uma banda feminista na situação que nós encontramos, com retrocessos sociais desse jogo político. Também gosto muito de Fuga de Saturno e Invéxis, bandas que tem uma identidade sonora bacana.

O que a banda projeta para o presente?

Gilberto - Primeiro passo é o lançamento do EP. Divulgá-lo com alguns shows na cidade e fazer algumas cidades fora. Entrar novamente em estúdio e gravar um álbum. Organizar os intercâmbios e fazer barulho Brasil afora. É possível.







Links Vênus In Fuzz:

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