Na belíssima música de abertura “Nothing, nothing, is gonna tear us apart”, quando diz nos primeiros versos “keep yourself alive and walking with me // try to keep me close to your heart”, declara-se numa legitima e particular ode ao bem querer; uma sútil manifestação de amor a existência que poucos sabem fazer.
Callado é um experiente compositor indie forjado na sonoridade do pós-punk inglês anos 80, sua referência mais marcante na sua trajetória musical ficou destacada em seu combo rock noventista com o Stonegarden. Mas hoje, atingindo a maturidade em todos os aspectos, se auto-descobre realizando sua celebração com elegância e rebuscamento. Deixando claro, sem a chatice e arrogância que os termos podem impor, mas com a sensibilidade que todo artista deve possuir.
Sua elegância está diretamente ligada ao seu modo educado e refinado de viver, definindo na práxis em todo o sentido sonoro do play: canções construídas com andamentos lineares focados na melodia e harmonizados na base voz, violão e teclados. Ficam expostas as saudáveis influências de cancioneiros pop como Bowie e McCartney na conduta conceitual da obra. Embora possa soar uma comparação prepotente, o requinte comprova o teor intencional desse trabalho. É fato.
"I Hope"
Embora a faixa de abertura sintetize toda a estética do disco, as demais faixas acompanham seu sentido, com desenvoltura e interligações primorosas. As músicas são longas – como requer toda contemplação - com exceção de “I Hope”, cuja faceta piano pop é a “mais acessível” entre todas. Destacam-se em especial a canção morosa “Eighteen Pieces” com cara de psicodélia pop floydiana; a deixa continuada com “Healing Time” apresentando um curto e angustiante solo de João Paulo; em “Rolling with the tide” é como se o Bowie estivesse numa session com Manfred Mann e o Coldplay. Embora o título aparente, “In the Darkness Hours” fecha-se o ciclo num festejo de agradecimento, com o suporte de amigos importantes como Fernando “Varnan” Coelho e Cris Braun. Vai querer mais o que?
Callado está em transe. Um transe particular no qual compartilha com o Mundo. Afinal uma boa obra, por mais pessoal que seja depois de proferida passa a pertencer a todos. Ele, como todo bom artista, tenta se esconder na humildade. A arte nada mais é do que administrar sabiamente a intensidade do ego com a expansão universal do nós.
Callado fez bem a si e faz bem ao Cosmos.
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