ODAIR JOSÉ
por Alex de Souza
foto: Assecomde
Alguém deveria pixar “Odair José is God” num muro qualquer
na pequenina Conde, cidade da região metropolitana de João Pessoa, famosa por
praias como Jacumã, Coqueirinho, Carapibus e Tambaba. Num sábado 17 de
novembro, o guitarrista, cantor e compositor subiu num modesto palco armado na
praça central do Conde, como uma das atrações principais da festa pelos 55 anos
de emancipação política do município.
O público parecia, digamos, receoso, desconfiado, evasivo.
Havia um vazio considerável .de frente ao palco e as pessoas se espalhavam pela
pracinha e a feirinha, distantes uns 25metros da estrutura. Talvez muitos
estivessem ali para o encerramento com Dj Patrick, alguém que não faço ideia de
quem seja. Apenas quando anunciado pelo locutor oficial, um pequeno grupo foi
se achegando. Reconheci uns amigos da universidade, mas também tinha aqueles
fãs de longas datas.
Odair, goiano de Morrinhos, com 70 anos completos em 16 de
agosto, mais de cinco décadas na arte, pode facilmente me desculpar o uso do
lugar-comum de lenda viva da música brasileira. Com a inseparável guitarra a
tiracolo, subiu ao palco no melhor estilo Paul McCartney, com calça preta,
camiseta branca de longas compridas e um colete preto para compor.
Algumas horas antes, na movimentada Jacumã, ele me recebeu
para uma entrevista exclusiva ao MeuSons. A expectativa era uma conversa curta,
uns 10, 15 minutos, para um bloco especial do nosso podcast. O que eu não
sabia, e não encontrei nas várias fontes que consultei antes de nossa conversa,
é que Odair está na lista das pessoas mais doces do mundo – aguardamos apenas a
última atualização pelas Nações Unidas para descobrir em que colocação ele se
encontra.
O papo durou quase uma hora, ou para sermos mais exatos: 58
minutos. Extremamente receptivo, Odair sentou numa cadeira deliciosa na
recepção da Jacumã’s Lounge Hotel, e ali passeamos pela sua carreira, desde o
sucesso meteórico em 1972 com “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, um certo
ostracismo a partir dos anos noventa, até o retorno inspirado a partir de 2012,
que rendeu os discos Praça Tiradentes, O Filho de Maria e José – Ao Vivo
(2014), Dia 16 (2015) e Gatos e Ratos (2016).
Odair se orgulha tanto desta nova fase de sua carreira
quanto de seu momento áureo, a partir de 1972, quando estourou com o hit “Eu
Vou Tirar Você desse lugar”. Por isso, abriu o show com Dia 16, um rockão
animado de celebração da vida, tirado de seu disco homônimo, e “Carne Crua”, de
Gatos e Ratos um libelo pesado sobre os excluídos que levou meu amigo Dan, um
autêntico punk paraibano, ao delírio.
Em seguida, veio o hino “A Noite mais Linda do Mundo” – e
Odair, como se estivesse subindo num palco pela primeira vez, a todo momento
saudava o público, perguntava se estava agradando e avisava que, além dos seus
greatest hits ia soltar suas composições recentes durante a festa.
Apesar dos tempos espinhosos, sobrou até uma homenagem à
presidenta Dilma Rousseff, após o clássico “Deixa esta Vergonha de Lado”, que
rendeu o apelido de “cantor das empregadas” (Ou “terror das empregadas”, para
os maldosos) ao artista.
Aos poucos, o povo foi se chegando, animados pela banda,
composta por jovens instrumentistas, entre eles seu filho Rafael. Num set bem
pensado de 24 canções durante as quais ele misturou as diversas tribos
presentes, desde a boyzada que descobriu sua obra a partir do resgate de O
Filho de José e Maria, seu álbum maldito e seminal de 1977, aos casais de
velhinhos, aos coroas descolados da universidade, ao vendedor de água e
cerveja, e a qualquer um que lembrava daquela velha letra daquela velha canção.
Um fã em especial, que estava em Alagoas, ouviu falar do show no Conde e foi
até lá para comemorar seu aniversário junto ao seu ídolo, era constantemente
saudado por Odair decima do palco, que estava em seu ambiente natural: em contato
com o público.
De repente, para mim, aquele show virou um acontecimento, as
pouco mais de 2 mil pessoas na frente do palquinho não percebiam que ali,
naquele momento, estávamos em Wembley, em 1985, em Copacabana com Stones em
2006, em algum lugar mágico em que todas as pessoas, em uníssono, cantavam e se
divertiam num espetáculo que ficaria marcado para sempre em suas memórias. O
final apoteótico, aos brados de “Cadê Você”, hit que ganhou o Brasil nos anos
90 com a dupla sertaneja Leandro e Leonardo teve um gostinho especial. Lá do
palco, Odair soltou um “Valeu, Alex” que pagou todo o rolé.
Na saída, com a banda já desmontando os instrumentos, todo
faceiro, Odair ainda pediu o microfone de volta e soltou aquele “Lula Livre”
que ninguém é de ferro. E fez questão de receber, nos camarins, todos que
quisessem aquele abraço, uma foto, um autógrafo.
Confira agora a entrevista, que acabou se tornando uma
edição especial do programa MeuSons totalmente dedicado a Odair José.
E
divirta-se!
MeuSons é apresentado e produzido por Fábio Jorge, Jesuino André, Alex de Souza e Igor Emilio.
Programa gravado no estúdio Musicland Records, em João Pessoa, Paraíba, em Dezembro de 2018.
Agradecimentos aos nossos parceiros, o programa Rock CEI na 98,1 FM em Brasilia e o site musical potiguar O Inimigo.
Contatos e sugestões:
E-mail: meusonspodcast@gmail.com
Twitter: @meusonspodcast
(83) 99963-6752 a/c Jesuino André.
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