5 de abr. de 2013

O ABC do Rock



Amanheci gargalhando.
- O pessoal do rock é meio esculhambado! – a sentença já partiu de casa, da boca da minha mulher, rápida como um foguete espacial. Diga a verdade e saia correndo...
Dias antes tava conversando com um amigo, quando o mote surgiu: retratos do mundo rock. Ele mesmo falou que adora o meio porque, entre vários motivos, sempre há situações/causos engraçadas.
Num desses domingos foi realizado um show de rock num quintal de uma casa, bem freqüentado pelos roqueiros descolados da cidade. Vez por outra, a organização de certos eventos gera fiascos. A ausência de certas regras, ou imprevistos indesejados, sempre acontece. No caso, como o local não era especificamente para tal, se fez morada para o inusitado.


O dono da casa, pessoa educada e paciente, não é o modelo que podemos de chamar de roqueiro alternativo. Sem qualquer tique que o identificasse com a galera. Entretanto, ofereceu a maior boa vontade para convivência com os roqueiros de plantão. Como dono do pedaço, preparou o ambiente para receber bem a famosa turma: ambiente varrido, venda de bebidas geladas, lanches e outros.
Estava marcado para começar no meio da tarde, mas a pontualidade britânica da juventude indie brasuca, carrega na morosidade típica dos latinos. Uma hora após o agendado a festa começou. Uma dezena de gatos pingados no pedaço para o pontapé inicial das apresentações.
Aparentemente as coisas não seguiram o curso normal desejado. Uns entram com o aval dos músicos que iriam tocar; outros com pacotes de cervejas geladas e por aí vai. Você sabe, é uma tribo formada na sua maioria por estudantes que só andam com dinheiro contado.
O local bonito e agradável servia de cenário ideal para uma domingueira de sons pesados. Só que com o muro baixo e sem identificação na porta, muitos dos atrasados não sabiam qual era o local da entrada. Assim aconteceu o primeiro imprevisto: uma pessoa foi entrar pelo lado errado e tentou abrir o portão que desabou feito o muro de Berlim. Era o tempero azedo que faltava para a comida do proprietário, que de longe foi logo berrando para não mexeram mais no portão.
A expectativa era de ter um bom público, o que não foi consumado devidamente. Mas a pouca quantidade de gente gerou um pandemônio inigualável que deve ter assustado o anfitrião. Até o cachorrinho mascote do recinto contribuiu para a pintura dantesca, cagando pelas passagens da casa que foi logo pisoteada pelos presentes, o que provocou sujeira e fedentina insuportável.
Mesmo com tudo isso, imperou a satisfação que é bem comum nas gigs pessoenses. Mas um detalhe peculiar foi dito pelo dono da casa, quando abordado por uma jovem que ajudava na organização do evento e usando da lógica, disse:
- Olha fulano, vamos colocar um cartaz no portão avisando que a entrada é do outro lado.
Sem pestanejar, a resposta veio de bate-pronto. Gesticulando com os braços para o alto o dono vociferou em alto e bom som:
- E esses porras lá sabe ler !!!!
Depois dessa, até o Sol botou o rabo entre as pernas, recolhendo-se em mais um exuberante final de tarde...

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