22 de abr. de 2017

GRETCHEN´S WHEEL

É o nome do projeto da talentosa cantora, compositora, produtora e multi-instrumentista americana Lindsay Murray, natural da famosa Nashville. Criada na cidade berço do country, e derivados, se diz inspirada em seus trabalhos no alt-rock anos 90. Em particular, a sua sonoridade lembrou-me em algumas canções os primeiros trabalhos da obscura veterana compositora Alice Despard e outras com um tanto melódico e vocal de outra veterana Aimee Mann. Lindsay tem boas referências na sua música, como atenciosamente esclarece:

“Minha primeira grande influência foi Matthew Sweet, nos anos 90. Foi quando eu percebi que queria tocar guitarra e escrever músicas. Meus outros artistas e bandas favoritos na escola e na faculdade (eu ainda os amo todos!) eram Teenage Fanclub, Fountains of Wayne, Failure, Elliott Smith, Big Star, Sunny Day Real Estate e Built to Spill, entre outros”

O que podemos destacar em suas composições - na similaridade com as referências sonoras citadas – são as condições estéticas de forte acento pop, estruturas melódicas com arranjos bem elaborados e letras com abordagem sensível, introspectiva e feminina em particular descobertas e dúvidas existenciais, como dita na faixa de abertura do terceiro disco cheio “Sad Scientist”, de lançamento recente, “Better in the dark”:
“why’d you have to go and turn the light on /don’t you know you’re better in the dark /never to reveal all the things you feel /you can’t fail if you refuse to start”



ou em  “Blank Slate”:
I’m made to feel too much /may be unwell /but take away the highs and lows / then what is left /one too many fatal flaws /list of features to redraw.

Sobre o caráter introspectivo de suas letras ela aprofunda e revela:

“Esta é uma boa pergunta! Todas as minhas canções são muito pessoais e foram inspiradas por algo na minha vida. Várias das músicas do meu primeiro álbum foram originalmente escritas quando eu era muito mais jovem, e essas eram sobre o amor e relacionamentos. Mas cerca de metade desse álbum, e certamente tudo que eu escrevi desde então, foi inspirado por outros tipos de coisas como eu ficar mais velha. Principalmente elas lidam com lutas internas como ansiedade, medo, incerteza (...) e procurando por contentamento”.



Nas produções dos seus discos chama a atenção das colaborações com algumas feras do rock alternativo americano: Ken Stringfellow (The Posies), produtor e parceiro no álbum de estreia; do ótimo baterista Ira Elliot (Nada Surf), ambos contribuindo na qualidade final de produção, além dos citados, destaca-se também a participação dos reconhecidos produtores, compositores e músicos popsters Andy Reed, Phil Ajjarapu  e Fernando Perdomo.

“Eu tive muita sorte em ter trabalhado com eles no meu novo álbum. Todos eles são artistas de destaque!”, enfocou a compositora.


A associação com esses nomes revela uma boa influência da artista com as tendências mais dinâmicas e melódicas do pop rock, do power pop e até uma queda com o soft rock. Nos três ótimos álbuns lançados: “Fragile State” (2015), “Behind the Curtains” (Futureman Recs -2016) e o recente “Sad Scientist” (Futureman Recs - 2017) fica evidente a evolução de Lindsay como compositora, destacando-se a vocalização e arranjos mais apurados. Em seus dois primeiros discos há um punch mais voltado para as guitarras, uma mentalidade mais rock, digamos assim. Nas dez faixas do novo play, a guria deu certo polimento nas distorções, uma levada cadenciada nos andamentos, acrescentando nas composições uma solidez popster, sem perder um milímetro sequer de inspiração.

Por curiosidade, quem ouve a música de Lindsay não imagina que ela é uma mulher madura e de uma família tipicamente americana. É mãe de dois adolescentes.

“Tenho dois: um menino e uma menina, o menino é 18 e a menina é 17. É engraçado porque meu marido e meus filhos escutam música country a maioria do tempo! Então, minha música não é definitivamente favorita em casa, infelizmente”, revela com certa graça do inusitado.

“Não ouço música country, embora onde eu viva num estado (Tennessee), onde é o gênero mais popular! Cresci ouvindo música country, mas quando eu tinha 12 ou 13 comecei a ouvir power pop, rock e música alternativa, o tempo todo!”, conclui sobre o fato.

Sobre o nome da banda, nada tem de inspirado na destacada britânica dos anos 90 Catherine Wheel, como diz abaixo:

“Quando imaginei um nome, não associei com a banda brit pop Catherine Wheel, embora já o tivesse ouvido antes. Gosto de Gretchen´s Wheel, embora possa soar desconcertante; às vezes as pessoas me chamam de Gretchen em vez de Lindsay. Eu adoro a idéia de estar em uma banda, mas eu nunca tentei formar uma”.

“Eu escolhi esse porque quis algo que não fosse o meu nome real. Pensei que seria mais interessante usar outro. Além disso, no começo achei que poderia formar uma banda algum dia, então queria um nome de banda. Mas depois de três álbuns, agora tenho certeza que vou ser sempre um artista solo, embora trabalhe com algumas outras pessoas nas minhas gravações. O nome foi inspirado de uma canção clássica alemã de Franz Schubert "Gretchen at the Spinning Wheel".


Embora tenha feitos discos primorosos e recebido ótimas criticas, Lindsay raramente toca ao vivo:

“Eu não toco muito ao vivo. Fiz algumas apresentações acústicas de curta duração nos últimos anos. As outras pessoas que tocam em meus álbuns vivem em outras partes dos EUA ou do mundo, e nem conheci a maioria deles pessoalmente. Amo música ao vivo, mas prefiro estar no público ao invés do palco”

As favoráveis resenhas da crítica especializada e a boa recepção do público motivaram na produção de um novo trabalho. O Gretchen´s Wheel acabou de lançar o EP intitulado “Awry”, de cinco faixas com produção bem simples e caseira, e colaboração de Nick Bertling.

“Eu realmente só quero escrever músicas e gravá-las, então acho que está tudo bem!” – Lindsay Murray.





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