30 de mai. de 2017

AS ONDAS DE RAFAEL JUNIOR

Conheço Rafael Junior desde os meados dos anos noventa, bem antes do inicio da internet. Intercambiamos muitos sons, zines e informações, além de shows e providenciais guaritas. O amigo sergipano, hoje de 43 anos, é o fundador, e excelente baterista, da destacada banda sergipana Snooze, uma dos grandes nomes do indie rock nacional.

Nos idos dos anos 90 também foi editor do reconhecido fanzine Cabrunco, importante publicação que divulgou o efervescente cenário musical independente brasuca da época. 


Durante os anos 2000 atuou como produtor, crítico musical e professor de bateria. Hoje é policial membro da banda do Corpo de Bombeiros em Aracaju, cria os três filhos e surfa nas horas vagas, a outra de suas paixões.

Com a Snooze lançou discos e tocou por todo país. É integrante de outros grupos – Maria Scombona, FerraroTrio, toca em projetos covers nos bares da cidade. Sempre foi um grande divulgador dos bons sons de Sergipe. Bastante atuante, é bem requisitado por alguns dos mais significantes artistas do estado.

Atualmente vive literalmente de música, sempre atento as novidades e com opiniões lúcidas, encaramos uma breve conversa, em formato de descontraído em que segue abaixo:

Inicialmente gostaria de fazer uma pergunta que desejo – e muitos que gostam da banda - há muito tempo: cadê a Snooze?
Hibernando. É simples e ao mesmo tempo complexo de explicar, não há um motivo específico para a parada com material novo etc. Fazemos uma festa anual e às vezes chamam pra tocar e gente vai, mas fica sempre aquele clima revival com material da demo e dos três discos que fizemos em 1998, 2002 e 2006. Então em resumo: a banda existe, mas está com pouquíssima atividade nos últimos anos. É basicamente isso

Bandas boas na linha musical da Snooze tá difícil de encontrar. Existe tentativas....
Continuo achando o WRY muito bom e eles retornaram com força em shows e tours e gravações, depois de uma parada por uns anos (chegaram a encerrar oficialmente as atividades). Mas não tenho acompanhado muita coisa nova.

Não sei se é impressão minha, mas vejo certo vazio artístico nessa geração Z.
Às vezes acho isso, às vezes acho que eu é que to velho e cansado. Não fico pensando muito a respeito, e nem julgando as novas gerações. Gosto de estar junto da molecada e fazer som com músicos mais jovens Muitos caras da minha idade viraram chatos e ranzinzas. Reclamam de tudo. Procuro me acostumar com as coisas, mas algumas são bem incompreensíveis. Não fazem tanto sentido pra gente como faz pros mais jovens. A relação com a música mudou, só isso.

Isso é normal. Todos nós ficamos um pouco conservador, um tanto reacionário. O tempo sempre comprova isso.
Verdade, mas procuro estar aberto.

Por falar em jovens músicos você é o professor da nova geração de bons bateristas sergipanos. Tinha imaginado uma influência ou algo a respeito?
Aí eles é que têm que dizer. Na verdade já há uma nova geração que eles foram professores. Percebo que cada um seguiu seu caminho e sua onda, só isso já me deixa bastante satisfeito. Porque a ideia não é imitar ninguém, e sim dar as ferramentas e cada um vai fazendo seu som.

Não vejo isso muito comum. Aqui por exemplo não temos um professor músico influente, digamos assim, e sendo baterista, menos ainda...
Pra mim isso é o mais importante, mas eles são muralhas sonoras. Talvez porque eu vim do rock, mas também tinha o conhecimento do conservatório, tocava em orquestra, tocava jazz. Dei aula em muitas escolas então às vezes chegavam até mim por acaso, nem me conheciam, apenas procuravam a escola pra aprender bateria. Outras vezes me procuravam depois dos shows mesmo e muitos outros músicos me indicavam: professores de guitarra, etc, porque sempre tem um aluno dele que tem um amigo que quer aprender bateria pra montar uma banda e tal, as coisas fluíram naturalmente.

São mais de vinte anos de trajetória com a Snooze. Como você analisa isso?
 Olho pra trás e vejo que fizemos as coisas direitinho, com seriedade, porque levamos música a sério. São três discos legais, uma importância local e regional, alguma projeção nacional no nosso nicho...
Nada demais, mas as pessoas sempre lembram com carinho e elogios. Isso é ótimo! Foi tudo fluindo naturalmente também, sem grandes planos ou pretensões.

E com outras bandas e artistas, como é trabalhar e tocar com outros que são diferentes estilos sonoros?
Pra mim é natural e é muito bom. Gosto de tocar coisas variadas mesmo. Fazer o mesmo show direto me deixa meio entediado. Ai às vezes fico inventando coisa, procuro pessoas e quase sempre que me procuram, eu digo sim e tento ajeitar a agenda. Vivo música. Full time!

Você é profissional na banda do corpo de bombeiros. Diz aí como é isso.
Fiz concurso público pra Cabo Músico, já tem 15 anos (2002). Antes já tinha sido da Orquestra Sinfônica por oito anos, desde 1995. Isso é pra poder viver de música, basicamente.

Você sempre resenhou discos para zines e outras publicações. Ainda está resenhando?
Não, tem um bom tempo que não faço mais. Depois dos zines vieram sites e blogs, e depois uma coluna semanal num jornal de grande circulação em Aracaju (Cinform). Agora quando uma banda nova local ainda invisível aparece, eu procuro escrever algo breve e mando pra velhos camaradas, como você, Aldemi, Bigs, Fernando, Viegas, etc.

Pode fazer um breve resumo da atual cena musical sergipana?
Fragmentada. Tem umas bandas, tem uns locais... Mas nada muito efervescente no momento. Como sempre, esforços individuais bacaninhas. The Baggios é o grande nome, consistência artística, ralação...
Gosto do Arthur Matos, da Plástico Lunar, Yves Deluc & Cidade Dormitório... O Casco tem feito umas coisas, mas ainda não vi show. Na praia mais pop, muita coisa boa: a cantora Sandy Alê, o grupo Coutto Orchestra...

A banda Couto fez um show aqui. Ainda escutei uma música. Bons músicos.
O baterista também foi meu aluno, o baixista toca bastante comigo nuns projetos. Rafael Ramos.
O cover dos Beatles, o Rafas Trio etc. Na verdade ele é pianista com mestrado na UFBA.
Na Coutto é que toca baixo, é multi instrumentista.

Fala aí dá sua relação com surfe. Quando começou, etc. Poucas pessoas do rock sabem disso.
Mais tempo que a música. Comecei em 13 de dezembro de 1986, com 13 anos. Completei 30 anos de surf, e nunca parei. No auge corri 30 campeonatos, nos anos 90. Tinha vários troféus, tá tudo perdido. Aí virei free surfer convicto e procurava viajar pra pegar ondas melhores. Mas recentemente animei em participar da categoria Master e estou gostando muito. Sem muita pretensão, só encontrar o pessoal da antiga na praia e correr umas baterias. É massa! Vou pra me divertir. Não importa o resultado, mas tô chegando numas finais.

O litoral sergipano tem uns picos de surfe bem interessantes que poucos de fora conhecem...
Tem sim. Principalmente Termas, em Ponta dos Mangues, no litoral norte e Praia das Dunas, no litoral sul. Com a ondulação certa, é de sonho! Sempre que posso vou lá.

Alguma perspectiva de projetos para o futuro?
Tenho vivido o presente e não dá pra pensar muita coisa, apenas cumprir a agenda de shows movimentada (2 a 4 por semana, média de 8 a 12 por mês), tem sido assim nos últimos 10 anos e eu gosto. São vários projetos diferentes, mas pouca coisa autoral. Acompanho uns artistas na noite e é isso.

Na seara da música autoral, há a vontade de fazer um disco novo da Snooze e de reunir a Maria Scombona pra shows. Também gostaria muito de fazer outro disco com essa banda. O disco do Ferraro Trio está gravado há mais de 1 ano e estamos buscando recursos para lançar ele, através de um crowdfunding.

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