Conheço
Rafael Junior desde os meados dos anos noventa, bem antes do inicio da
internet. Intercambiamos muitos sons, zines e informações, além de shows e providenciais
guaritas. O amigo sergipano, hoje de 43 anos, é o fundador, e excelente baterista,
da destacada banda sergipana Snooze, uma dos grandes nomes do indie rock
nacional.
Nos
idos dos anos 90 também foi editor do reconhecido fanzine Cabrunco, importante publicação
que divulgou o efervescente cenário musical independente brasuca da época.
Durante
os anos 2000 atuou como produtor, crítico musical e professor de bateria. Hoje
é policial membro da banda do Corpo de Bombeiros em Aracaju, cria os três
filhos e surfa nas horas vagas, a outra de suas paixões.
Com
a Snooze lançou discos e tocou por todo país. É integrante de outros grupos –
Maria Scombona, FerraroTrio, toca em projetos covers nos bares da cidade. Sempre
foi um grande divulgador dos bons sons de Sergipe. Bastante atuante, é bem
requisitado por alguns dos mais significantes artistas do estado.
Atualmente
vive literalmente de música, sempre atento as novidades e com opiniões lúcidas,
encaramos uma breve conversa, em formato de descontraído em que segue abaixo:
Inicialmente gostaria de fazer uma
pergunta que desejo – e muitos que gostam da banda - há muito tempo: cadê a
Snooze?
Hibernando.
É simples e ao mesmo tempo complexo de explicar, não há um motivo específico
para a parada com material novo etc. Fazemos uma festa anual e às vezes chamam
pra tocar e gente vai, mas fica sempre aquele clima revival com material da
demo e dos três discos que fizemos em 1998, 2002 e 2006. Então em resumo: a
banda existe, mas está com pouquíssima atividade nos últimos anos. É
basicamente isso
Bandas boas na linha musical da Snooze
tá difícil de encontrar. Existe tentativas....
Continuo
achando o WRY muito bom e eles retornaram com força em shows e tours e
gravações, depois de uma parada por uns anos (chegaram a encerrar oficialmente
as atividades). Mas não tenho acompanhado muita coisa nova.
Não sei se é impressão minha, mas vejo
certo vazio artístico nessa geração Z.
Às
vezes acho isso, às vezes acho que eu é que to velho e cansado. Não fico
pensando muito a respeito, e nem julgando as novas gerações. Gosto de estar
junto da molecada e fazer som com músicos mais jovens Muitos caras da minha
idade viraram chatos e ranzinzas. Reclamam de tudo. Procuro me acostumar com as
coisas, mas algumas são bem incompreensíveis. Não fazem tanto sentido pra gente
como faz pros mais jovens. A relação com a música mudou, só isso.
Isso é normal. Todos nós ficamos um pouco
conservador, um tanto reacionário. O tempo sempre comprova isso.
Verdade,
mas procuro estar aberto.
Por falar em jovens músicos você é o
professor da nova geração de bons bateristas sergipanos. Tinha imaginado uma
influência ou algo a respeito?
Aí
eles é que têm que dizer. Na verdade já há uma nova geração que eles foram
professores. Percebo que cada um seguiu seu caminho e sua onda, só isso já me
deixa bastante satisfeito. Porque a ideia não é imitar ninguém, e sim dar as
ferramentas e cada um vai fazendo seu som.
Não vejo isso muito comum. Aqui por
exemplo não temos um professor músico influente, digamos assim, e sendo baterista,
menos ainda...
Pra
mim isso é o mais importante, mas eles são muralhas sonoras. Talvez porque eu
vim do rock, mas também tinha o conhecimento do conservatório, tocava em
orquestra, tocava jazz. Dei aula em muitas escolas então às vezes chegavam até
mim por acaso, nem me conheciam, apenas procuravam a escola pra aprender bateria.
Outras vezes me procuravam depois dos shows mesmo e muitos outros músicos me
indicavam: professores de guitarra, etc, porque sempre tem um aluno dele que
tem um amigo que quer aprender bateria pra montar uma banda e tal, as coisas fluíram
naturalmente.
São mais de vinte anos de trajetória com
a Snooze. Como você analisa isso?
Olho
pra trás e vejo que fizemos as coisas direitinho, com seriedade, porque levamos
música a sério. São três discos legais, uma importância local e regional,
alguma projeção nacional no nosso nicho...
Nada
demais, mas as pessoas sempre lembram com carinho e elogios. Isso é ótimo! Foi
tudo fluindo naturalmente também, sem grandes planos ou pretensões.
E com outras bandas e artistas, como é
trabalhar e tocar com outros que são diferentes estilos sonoros?
Pra
mim é natural e é muito bom. Gosto de tocar coisas variadas mesmo. Fazer o
mesmo show direto me deixa meio entediado. Ai às vezes fico inventando coisa, procuro
pessoas e quase sempre que me procuram, eu digo sim e tento ajeitar a agenda. Vivo
música. Full time!
Você é profissional na banda do corpo de
bombeiros. Diz aí como é isso.
Fiz
concurso público pra Cabo Músico, já tem 15 anos (2002). Antes já tinha sido da
Orquestra Sinfônica por oito anos, desde 1995. Isso é pra poder viver de
música, basicamente.
Você sempre resenhou discos para zines e
outras publicações. Ainda está resenhando?
Não,
tem um bom tempo que não faço mais. Depois dos zines vieram sites e blogs, e
depois uma coluna semanal num jornal de grande circulação em Aracaju (Cinform).
Agora quando uma banda nova local ainda invisível aparece, eu procuro escrever
algo breve e mando pra velhos camaradas, como você, Aldemi, Bigs, Fernando,
Viegas, etc.
Pode fazer um breve resumo da atual cena
musical sergipana?
Fragmentada.
Tem umas bandas, tem uns locais... Mas nada muito efervescente no momento. Como
sempre, esforços individuais bacaninhas. The Baggios é o grande nome, consistência
artística, ralação...
Gosto
do Arthur Matos, da Plástico Lunar, Yves Deluc & Cidade Dormitório... O
Casco tem feito umas coisas, mas ainda não vi show. Na praia mais pop, muita
coisa boa: a cantora Sandy Alê, o grupo Coutto Orchestra...
A banda Couto fez um show aqui. Ainda
escutei uma música. Bons músicos.
O
baterista também foi meu aluno, o baixista toca bastante comigo nuns projetos. Rafael
Ramos.
O
cover dos Beatles, o Rafas Trio etc. Na verdade ele é pianista com mestrado na
UFBA.
Na
Coutto é que toca baixo, é multi instrumentista.
Fala aí dá sua relação com surfe. Quando
começou, etc. Poucas pessoas do rock sabem disso.
Mais
tempo que a música. Comecei em 13 de dezembro de 1986, com 13 anos. Completei
30 anos de surf, e nunca parei. No auge corri 30 campeonatos, nos anos 90. Tinha
vários troféus, tá tudo perdido. Aí virei free surfer convicto e procurava viajar
pra pegar ondas melhores. Mas recentemente animei em participar da categoria
Master e estou gostando muito. Sem muita pretensão, só encontrar o pessoal da
antiga na praia e correr umas baterias. É massa! Vou pra me divertir. Não
importa o resultado, mas tô chegando numas finais.
O litoral sergipano tem uns picos de
surfe bem interessantes que poucos de fora conhecem...
Tem
sim. Principalmente Termas, em Ponta dos Mangues, no litoral norte e Praia das
Dunas, no litoral sul. Com a ondulação certa, é de sonho! Sempre que posso vou
lá.
Alguma perspectiva de projetos para o
futuro?
Tenho
vivido o presente e não dá pra pensar muita coisa, apenas cumprir a agenda de
shows movimentada (2 a 4 por semana, média de 8 a 12 por mês), tem sido assim
nos últimos 10 anos e eu gosto. São vários projetos diferentes, mas pouca coisa
autoral. Acompanho uns artistas na noite e é isso.
Na
seara da música autoral, há a vontade de fazer um disco novo da Snooze e de
reunir a Maria Scombona pra shows. Também gostaria muito de fazer outro disco
com essa banda. O disco do Ferraro Trio está gravado há mais de 1 ano e estamos
buscando recursos para lançar ele, através de um crowdfunding.
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