26 de dez. de 2017

WELLER

Aqui no MeuSons, após várias audições de bons discos, escolhemos o primeiro disco cheio do trio americano Weller como o melhor do ano. Uma grata surpresa, considerando uma banda que praticamente estréia com esse disco. Embora o nome lembre ao líder da lendária banda britânica The Jam, não há nenhuma referência sonora com os citados.

O álbum que leva o mesmo nome no título é constituído de dez faixas consistentes, emotivas e instigantes. Com musicalidade melodiosa por essência, pop em seu conceito, sentimental no discurso e desafiadora em sua execução. Dentro desse universo emocionante a sonoridade envolve, transforma, delira e convence. 

Weller é um projeto que nasceu na mente do talentoso cantor, compositor e guitarrista Harrison Nantz e materializou-se quando foi morar na Filadélfia ao juntar-se com o baixista Evan Clark Moorehead e o baterista Jeremy Berkin em 2016. Suas referencias sonoras, e enfatizadas pela banda, começa lá no final dos anos 80 e começo dos 2000, apoiada na mudança tecnológica, na diversidade indie de estilos e ebulição da mentalidade musical do underground. 

25 de dez. de 2017

COALIZÃO

 COLIZÃO PUNK!

Eis uma palavra forte que significa aliança para um propósito comum. Na música tornou-se um supergrupo punkster formatado em um discurso incisivo, poderoso, corajoso e definitivo com uma sonoridade extrema, contundente e urgente. Uma junção de personalidades momento cenário que revela suas características mais marcantes.

Uma coalizão só existe quando se deseja manter ou mudar algo. E que algo nesse meio precisa ser dito de forma direta, sem concessões. Coalizão é um soco sonoro sob a vestimenta hardcore-punk em sua vertente mais tradicional extraída dos anos 80 nos gritos subterrâneos e subversivos de cenas seminais desde San Francisco até São Paulo. 

14 de nov. de 2017

THEE AUTOMATICS

THEE AUTOMATICS - “Bleakness” (2017, Deserto Records)
A veterana banda poptiguar vem com seu décimo quinto (!) disco e incrementa a maturidade sem se perder no tempo, sabendo dividir o talento já existente com os novos integrantes Karla Farias (ex-Alien TV, substituindo Chris Pimenta do ano passado para cá) e Dante Augusto (guitarra e ex-Calistoga), ponto relevante a ser considerado. “Surrender” já é exemplar na abertura, com guitarra de timbres nervosos pontuando sobre uma melodia retilínea, mas vibrante. A segunda, “Read my mind”, vem com os vocais de Dante Augusto, com a canção ficando como se os Posies quisessem soar como o Joy Division, criando uma sonoridade nada pop, apesar das referências. “Air kick” chega aqui em versão entre o dançável e o sombrio, composição de Karla Farias quando ela fazia parte do quarteto potiguar Alien TV. A curta “Terranova” tem instrumental mais para um improviso sob levada eletrônica, fato nada convencional. Na curta “CG poem (Manjericão)” voltam antigas influências britânicas (Fall, Swell Maps) e o baixo com distorção ficou soberbo, além de terminar com o próprio poeta Carlos Gurgel recitando seu poema de 1981. Já “Spectrum” poderia ser mais longa e “Another you”, presente no disco de 2016, vem aqui em versão sem voz. A derradeira é a climática “Left”, única faixa mais pop, aliás, fato provocativo sob base eletrônica. Em cada disco, uma novidade. De reumatismo a banda não morre. 


Bandcamp

8 de nov. de 2017

RICHARD TURGEON

O compositor, cantor e multi-instrumentista americano Richard Turgeon é um artista bastante versátil: compõem, toca vários instrumentos, grava, edita, é fotografo e ainda produz as artes das capas dos seus discos. Além disso, é escritor e roteirista de vídeo. Com todos esses atributos é só correr pra torcida. Residente em São Francisco, Califórnia, onde trabalha e mora com a mulher e dois filhos, o roqueiro suburbano, como gosta de dizer, tem o raro talento de fazer canções melodiosas diversas, sempre variando nas levadas rítmicas e letras sempre sacadas com bom humor.

Simpatia em pessoa, Richard embora faça um som alternativo, gosta das bases e solos de guitarras bandas de metal anos 80, o que certa forma reflete na técnica como toca as guitarras em algumas músicas. Mas não se trata de nenhuma mistura de estilos; suas composições estão alinhadas entre o alt-rock e o powerpop. 

Como escritor escreveu o romance “Please Advice”, cujo personagem central é um músico roqueiro que trabalha numa empresa de marketing, o que soa ser autobiográfico e o livro “Indie Rock 101”, um guia para músicos que procuram fundamentos essenciais para execução de uma banda e produção de áudio.

18 de out. de 2017

THE HALAMAYS

O simpático duo indie pop The Halamays é formado pelo casal Katie e Patrick Watkins, é original da cidade de Columbus – Ohio, mas hoje residente em Chicago. Estão juntos desde os tempos em que eram jovens universitários. O relacionamento gerou uma produção sonora, inicialmente como uma sólida dupla folk até acertarem com o indie pop de forte acento eletrônico. Katie já tocou em outras bandas, fez turnês, mas a satisfação em tocar e compor só se realizava junto com o marido.

A banda segue o modelo tipicamente independente, em todos os processos - desde a produção lo-fi bedroom, nas gravações até a divulgação “faça você mesmo”. A dupla ainda assim destaca-se no enorme universo indie americano por uma sonoridade moderna, honesta e bem pop. Até o momento não produziram o primeiro disco cheio – lançaram em setembro passado o segundo EP com cinco faixas, intitulado “EP 2”.

4 de out. de 2017

DEAD NOMADS

"Matando o tempo"

Como diria os antigos, o tempo não passa, quem passa somos nós. Depois de uma parada considerável em suas atividades, o quarteto Dead Nomads retoma suas ações com modificações significantes em seu line up e na sua sonoridade. A veterana banda, existente desde os anos 90, é uma das mais queridas na cena rock local.



Sobre o longo período de inatividade, o baixista Degner Queiroz explica: “Desde o trabalho anterior, com o single “Siga Adiante” (2006) a banda diminuiu as produções e os shows. Nesse momento estava envolvido em outros projetos, e a banda se manteve com outra formação, foram anos bem difíceis, mas por questões pessoais de cada um, e a labuta do dia a dia com outras profissões, a banda ficou parada. E posso dizer que na região para viver de música é muito difícil. Ela nunca considerou seu término, ainda assim, os caras conseguiram tocar nesse período, sendo convidada a participar de Festival super importante como o Ferrock em Brasília e também tocou no palco de um grande evento na Praia de Tambaú”.

5 de set. de 2017

ELECTRO BROMANCE

ELECTRO BROMANCE
“We are like a time bomb” (Deepland Records)


Fazer música nos confins menos abastados do Brasil parece ser uma atitude mais rock que muito posudo roqueiro tatuado. Vindo da terra de Augusto dos Anjos, o duo paraibano Electro Bromance surpreende atacando de synth pop e dark wave. Sobrevoando pioneiros como OMD (“Erotic playground”) e Wire (“Make me your toy”), eles puxam os BPMs para cima nas agitadas “Euphoria” e “Beloved”, as duas cheias de timbres graves de teclados e programações margeando o pop de faceta mais eletronica. Com a quase pop “Shy banshee”, a lembrança do Talk Talk fica até nítida, mas os riffs de guitarra de Hansen Pessoa marcam a diferença. A tensa – porém mais cadenciada – “Unreal” vem com plano sinistro e emerge como se o Kraftwerk deixasse a preguiça das últimas décadas de lado e pudesse dar um passo à frente, aqui uma clara trilha sonora de ficção cientifica e poderia muito bem estar em um disco atual do Front 242. Por outro lado, “Love adventures” desce um pouco os beats e se assemelha ao clima de discos como “Music for the masses”, do Depeche Mode (ou seja, quem gosta de eletrônica à la anos 80 reclamará). Com um pouco mais de variação na timbragem e andamento das programações – e se explorar mais a guitarra barulhenta de Hansen -, o clima de nostalgia será esquecido em prol de um futuro menos obscuro e mais bombástico.




(resenha escrita por Alexandre Alves, músico e produtor poptiguar)

16 de ago. de 2017

VÊNUS IN FUZZ, Planeta do Barulho!

A música segue um ritmo linear, crescendo em densidade sob camadas de efeitos entre os limites sonoros do barulho e a melodia. É nessa concepção musical - traduzida pelas fortes influencias dos post-punk anos 80 e do shoegaze brit anos 90 - que o guitarrista e vocalista Gilberto Bastos vinha formatando a sonoridade da banda paraibana Vênus In Fuzz desde o começo dos anos 2000, mas apenas recentemente concretizado. 
Atualmente é um quarteto formado por Gilberto, Igor Silva (voz e baixo), Angie (bateria) e Tarcisio Victor (guitarras) que vem se destacando na cena indie rock de João Pessoa.

Em julho passado lançaram o novo EP contendo quatro faixas e a produção caprichada da Mardito Discos. O trabalho da banda, lançado pelo próprio selo Silo Records, vem tomando projeção no país, sendo convidada recentemente para participar de uma coletânea tributo ao famoso grupo inglês Spiritualized. Sob esses assuntos foi em que trocamos uma idéia com o grupo. Confira a breve entrevista e escute o novo play pelos links indicados abaixo. 

12 de jul. de 2017

CALLADO, NA IDADE DA RAZÃO

Prestes a completar 50 anos de vida (em novembro), o compositor, cantor e guitarrista alagoano Luiz Eduardo Calado celebra seu tempo com uma plenitude holística – humana e artística. Sua trajetória musical mantém sempre em progresso, com a experiência e sabedoria que lhe apontam os melhores caminhos com os meios mais adequados.

Um dos poucos reminiscentes na ativa desde a cena seminal dos anos 90 em Maceió, Calado expõe como influências marcantes em seus trabalhos o pós-punk britânico e o rock alternativo americano. Formou e participou de várias bandas e projetos com seu peculiar senso melódico e lírico. Agora em 2017 grava e lança um disco com uma produção mais esmerada, no sistema de captação de recursos via crowdfunding.

Calado nos conta um pouco da sua história e convida aos leitores e amigos a participarem desse novo projeto em execução. Vamos nessa?!

30 de mai. de 2017

AS ONDAS DE RAFAEL JUNIOR

Conheço Rafael Junior desde os meados dos anos noventa, bem antes do inicio da internet. Intercambiamos muitos sons, zines e informações, além de shows e providenciais guaritas. O amigo sergipano, hoje de 43 anos, é o fundador, e excelente baterista, da destacada banda sergipana Snooze, uma dos grandes nomes do indie rock nacional.

Nos idos dos anos 90 também foi editor do reconhecido fanzine Cabrunco, importante publicação que divulgou o efervescente cenário musical independente brasuca da época. 

22 de abr. de 2017

GRETCHEN´S WHEEL

É o nome do projeto da talentosa cantora, compositora, produtora e multi-instrumentista americana Lindsay Murray, natural da famosa Nashville. Criada na cidade berço do country, e derivados, se diz inspirada em seus trabalhos no alt-rock anos 90. Em particular, a sua sonoridade lembrou-me em algumas canções os primeiros trabalhos da obscura veterana compositora Alice Despard e outras com um tanto melódico e vocal de outra veterana Aimee Mann. Lindsay tem boas referências na sua música, como atenciosamente esclarece:

“Minha primeira grande influência foi Matthew Sweet, nos anos 90. Foi quando eu percebi que queria tocar guitarra e escrever músicas. Meus outros artistas e bandas favoritos na escola e na faculdade (eu ainda os amo todos!) eram Teenage Fanclub, Fountains of Wayne, Failure, Elliott Smith, Big Star, Sunny Day Real Estate e Built to Spill, entre outros”

O que podemos destacar em suas composições - na similaridade com as referências sonoras citadas – são as condições estéticas de forte acento pop, estruturas melódicas com arranjos bem elaborados e letras com abordagem sensível, introspectiva e feminina em particular descobertas e dúvidas existenciais, como dita na faixa de abertura do terceiro disco cheio “Sad Scientist”, de lançamento recente, “Better in the dark”:
“why’d you have to go and turn the light on /don’t you know you’re better in the dark /never to reveal all the things you feel /you can’t fail if you refuse to start”