4 de jan. de 2012

Memória Rock



Bem, no início de 2008 comecei a desenvolver a idéia de publicar algo sobre a cena rock independente nacional dos anos 90. Uma pretensão de relatar algo sobre a época, publicar na internet e depois, talvez, um livro. Ruminei, consultei uns amigos e tracei um formato. O tema era pretensioso e, o mais importante, dependente da boa vontade das pessoas. O objetivo era meramente registrar. Temos um desleixo natural para as memórias, afinal para frente é que se anda, como diria o Barão de Itararé, voltar pra trás é "revoltar", concluiu ele. Descobri que não tenho o tino para "revoltante", por isso estagnei com o projeto. Motivos vários, dificuldades como: desânimo no “feedback”, incapacidade técnica, obrigações particulares e um monte de abobrinhas...
Hoje, refletindo melhor, penso que o mais adequado é mostrar, através das palavras dos amigos, que vivenciaram os anos 90, um pouco do que foi. Todos eles importantes no tempo e no espaço. E jamais poderia faltar com isso. Não ouso chamar de memórias – nem perto disso -, mas tomem como fragmentos de um todo. Postarei ao vento...

Disseram sobre o cenário do rock independente nos anos 90:

"Acho que conseguimos sem perceber nem nos importarmos com isso, criar um cenário independente no Brasil, com gente pensando diferente e muito no tesão de fazer diferente, de criar espaços, criar algo a gente mesmo, DIY mesmo com muita variedade e curiosidade, isso era legal. Já tinha existido um cenário de rock nos anos 80 que era muito embasado nas gravadoras grandes e em hits, nos 90 nós queríamos variedade e produzir muito, cair na estrada mesmo". Rodrigo Lima (Dead Fish).

"A abertura do Brasil ao mundo, acho. Nessa década chegou a TV a cabo, a MTV, importações e a Internet. Isso caiu como uma bomba no meio de uma molecada que não estava amarrada por ideologia alguma, sem aquela "radicalidade" "extremista" das tribos dos anos 80 e sem o "compromisso político" superestimado dos jovens dos anos 60 e 70".  Bruno Privatti (produtor e fanzineiro carioca).


"Eu cheguei a pegar o tempo do correio, das cartas e pacotes que chegavam quase todos os dias, com sons novos, palavras diferentes e tantas ideias, sempre em formato físico (flyers, fitas cassete, fanzines, cdrs, cds). Mas depois chegou a internet e tudo mudou. Não sei se para melhor, mas admito que tudo ficou mais acessível. Eu ainda resisti bem a invasão, pois somente em 1999 eu fui ter internet disponível regularmente em casa. Mas eu diria que o mais importante nos anos 90 foi a chegada da internet, que condicionou mudanças, tais como a diminuição do numero de fanzines de papel com a chegadas das personal web pages e dos weblogs, a diminuição do número de demos com a chegada do mp3". César Zanin (músico e produtor paulista, Moonrise, Woodland Records).

"Talvez duas coisas possam ser consideradas marcos nos anos 90: o aparecimento do CD e a popularização da internet. Apesar de representarem a evolução, também foram os principais responsáveis pelo sumiço de fanzines em formato de papel e de fitas cassete e discos de vinil. Não serei tão romântico ao ponto de chorar e falar que formato tal era melhor que os digitais que dominam hoje. Acho que o formato digital representa hoje a democracia à informação (mesmo que algumas vezes de forma “ilegal”, como os downloads) que todos nós, que vivemos nos anos 90 merecíamos. Uma pena que a geração de hoje não saiba usar esse meio de maneira ideal". Márcio Sno (faneditor e documentarista paulista).

"Acho que a comunicação por zines, cartas, fitas via correio, o início dos festivais, a abertura das casas de shows para as bandas independentes. Como disse, na época, não existia internet. E a comunicação era feita no boca-a-boca, por zines, cartas, etc. E funcionou muito bem!!! Porque o movimento tomou uma proporção territorial que não imaginava. Era gente de Manaus, vindo pra São Paulo e vice-versa, tudo em nome do rock. As bandas se comunicavam, convidavam umas às outras para tocarem juntas e assim a coisa foi se formando. Acho que isso se deve também muito aos festivais que começaram a pipocar, exatamente com esse objetivo. Não existiam as redes sociais, mas existiam os festivais reunindo pessoas com um objetivo e gosto comum". Márcia Raele (produtora paulista, editou o zine Done).

"Uma coisa que eu achava legal nos anos 90 é que uma banda que era boa "aparecia" de certa forma na cena independente. Era mais fácil, apesar de hoje em dia ter mais lugares pra se divulgar. Não tinha tanta banda quanto hoje, eu acho. Tinha muita banda, muita mesmo, mas as bandas conseguiam um destaque, pelo menos na cena local. Lembro que os shows socavam naquela época, hoje em dia, se uma banda colocar 120 pagantes num show, chora de emoção. Aqui em Salvador, nos anos 90 isso era praticamente um show vazio...". Rodrigo "Sputter" Chagas (The Honkers)

 fotos com as bandas Waterball e Killing Chainsaw.

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